30.8.07

Desencontro

É tênue essa separação
Frágil como um laço em cadaço de sapato
É sutil esse vácuo
Transparente como os sentimentos nobres
Aprende-se na força ou na dor a suportar tamanho desespero
Mas talvez aprender não é remédio para o caso
Aprender o que não se consegue fazer
Me parece absurdo administrar tal cenário
Tentativa descabida
Só podia ser coisa do Homem
Esse segue enganando-se
Comprando em banca de revistas manuais prontos. (Sérgio Roberto)

Assim

Eu não entendo
Faço questão de não compreender
É assim mesmo alguém aí?
Tem que ser assim ou podemos escolher?
Não ouço respostas
Se quer alguém se aproxima
Silêncio
Esse faz barulho em mim
Contraditório ou circunstância?
Não, não respondam
Não quero aprender as respostas prontas
Esperem
Só mais uma pergunta
E deixo vocês irem
Prometo
Apenas me digam
Por que eu não posso ser assim? (Sérgio Roberto)

25.8.07

Quatro fechado

Sempre estamos presos em quatro
Quatro lados,quatro paredes,quatro pontos,quatro linhas em quatro
Não gosto do número quatro fechado
Ele me aprisiona
Tentei quebrar o quatro em dois
Eu gosto do número dois
Ele me liberta
Dois lados,o céu e a terra, dois pontos , duas linhas em paralelo
Eu suporto estar em dois mas nunca em quatro
Preciso ter portas para voar
Duas portas e duas janelas
Sempre em dois
Nunca em quatro. (Sérgio Roberto)

Céu de Band-Aid

Olhei pra cima e vi um telhado azul com pequenos buracos
Tentei chegar mais próximo, mas o amarelo do sol não deixou
Então fechei eles com nuvens em forma de Band-Aid
O telhado-céu cicatrizou
E em cada buraco nasceu uma estrela solitária sem cor" (Sérgio Roberto)

10.8.07

Contato Imediato/ Arnaldo Antunes

Letra:

Contato Imediato

Composição: Arnaldo Antunes / Marisa Monte / Carlinhos Brown

"Peço por favor
Se alguém de longe me escutar
Que venha aqui pra me buscar
Me leve para passear
No seu disco voador
Como um enorme carrossel
Atravessando o azul do céu
Até pousar no meu quintal
Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Estou pronto para embarcar
Sem me preocupar e sem temer
Vem me levar
Para um lugar
Longe daqui
Livre para navegar
No espaço sideral
Porque sei que sou
Semelhante de você
Diferente de você
Passageiro de você
À espera de você
No seu balão de são joão
Que caia bem na minha mão
Ou numa pipa de papel
Me leve para além do céu
Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação
Longe de mim
Solto no ar
Dentro do amor
Livre para navegar
Indo para onde for
O seu disco voador"

Buraco negro solidão

O espaço incompleto sempre se fez presente em concreto
Aprender a lapidá-lo não foi tarefa das mais fáceis
Foi preciso criar um vínculo forte com a amiga solidão
Buscando respostas no vazio de caminho árduo
É como andar na contramão do asfalto
Os ombros criaram uma casca escudo
Nunca aceitaram o fato de serem deixado de lado
Pessoas são como planetas
Não conseguem andar nuas pelo espaço completo
Por que dizer o tamanho do buraco
Se ele é sem medida palpável
O que sei é que ele cresce para fora
E que não tem forma
Seus olhos são negros
O nome dele é buraco negro solidão (Sérgio Roberto)

8.8.07


Corro daqui pra aculá
de lá pra cá
Paro perdido afobado e sempre me pergunto:
"Como eu faço para me achar?"
(Sérgio Roberto)

Samba Para Vinicius



"Poeta, poetinha vagabundo

Quem dera todo mundo

Fosse assim feito você

Que a vida não gosta de esperar

A vida é pra valer

A vida é pra levar

Vinicius, velho, saravá" (Toquinho e Chico Buarque)
"A vida é igual em toda a parte e o que é necessário é a gente ser a gente." (CLARICE LISPECTOR)

Índio-negro-branco


"Se Deus quiser, um dia eu quero ser índio
Viver pelado pintado de verde,
num eterno domingo,
ser um bicho-preguiça,
espantar turista
E tomar banho de sol,
banho de sol, banho de sol, sol...
Baila comigo, como se baila na tribo...
Baila comigo, lá no meu esconderijo"
(Rita Lee Jones)
"A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas."
"Todo caminho da gente é resvaloso.
Mas também, cair não prejudica
demais - a gente levanta, a gente sobe,
a gente volta!...
O correr da vida embrulha tudo,
afrouxa, sossega e depois
desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
(João Guimarães Rosa )

Cinzeiro


Apoio o cigarro sobre teu olho oval em lacunas meia-lua na tua lateral.

Deixo-o sujar-te com cinzas quentes até sumirem entre o vento.

Recomponho-me, trazendo teu amigo até minha boca novamente.

Respiro o corpo alheio em uma tragada lenta,sem algemas.

Exalo a fumaça branca e apago em ti o que depositei nele de esperança.

Acendo outro imediatamente cometendo o pecado da inveja.

Você sempre o tem do início ao fim,eu só o tenho quando ele está aceso em mim. (Sérgio Roberto)

Ameixa

Meia volta em direção a tua esquerda,olha em lateral e mostra a metade do teu oceano nos lábios ameixa.Já sigo contente, por que a metade da tua outra metade é que me faz beber do suco doce que derramas sobre sua cor negra,pele com casca,bicho-mulher-ameixa." (Sérgio Roberto)

7.8.07

Amizade



Universo Ao Meu Redor

Composição: Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown


Tarde, já de manhã cedinho

Quando a nevoa toma conta da cidade

Quem pega no violão

Sou eu, sou eu

Pra cantar a novidade

Quantas lágrimas de orvalho na roseira

Todo mundo tem um canto de tristeza

Graças a Deus, um passarinho

Vem me acompanhar

Cantando bem baixinho

E eu já não me sinto só

Tão só, tão só

Com o universo ao meu redor

5.8.07

Vó Nilza





O assa pão

O cheiro de café que escapava do bule se misturava com o cheiro de pão queimado do assa pão.Esqueci de falar para vocês que o assa pão era um eletrodoméstico que deixava os pães assadinhos na casa da minha vó Nilza.Menino olha esse pão,já deve está queimado!Eita tempo bom, quando a gente acreditava que tudo era para sempre. Tempo em que eu corria para abraçar minha vó no portão e esquecia que o céu era o limite.





A cadeira de foto

Ela era de madeira e com um tecido azul e branco,ficava entre a grama e as flores do jardim da vó Nilza.Era só fazer sol para a cadeira de foto virar cenário na nossa imaginação.Eu sentava nela entre uma roseira torta e um pé de romã e olhava para a máquina fotográfica sorrindo feliz.Em seguida ligava a torneira e aguava as plantas com a mangueira enrolada em meus pés.O sol se despedia deixando as estrelas tomarem conta do jardim e eu corria para a mesa da cozinha para comer biscoito maria ouvindo minha vó cantar baixinho igual a um passarinho quando encontra uma flor feliz.






Estrela que cai

Na frente da casa da vó Nilza, tinha um banquinho, na verdade um pedaço de um poste, encostado no muro que separava a rua de areia e o jardim verde da vovó.Lá,eu,meus primos e os colegas da rua nos encontravamos todas as noites para brincar e conversar até a hora do sono chegar.Lá pelas tantas, todos,sabendo que eu tinha medo das estrelas cairem do céu começavam a dizer: "Sérginho, olha uma estrela caindo"! Eu tomado pelo medo,corria para dentro de casa e perguntava assustado para minha vó: Voinha,estrela pode cair? Ela sorria e dizia: "Menino deixa de besteira, vá brincar,estrela foi feita para no céu ficar."

Antes do ser

Antes do ser

Dentro do ser
verbo infinitivo que nunca pode ter
existe a conjugação plena de saber
o que a vida peca em prever
antes do próprio protagonista sonhar em viver.(sérgio roberto)
Cor em forma de olho

"NAS ENTRELINHAS DAS EXPERIÊNCIAS DIFÍCEIS, GERALMENTE ENCONTRAMOS ALGO AZUL".(Sérgio Roberto)

Amigo tempo

Amigo tempo

O frio aqui dentro não se funde com o calor lá fora
A barreira pele impede esse encontro
Talvez, melhor será, adiar esse instante
O tempo não se faz de arrogante
Apenas segue sua intuição de precipiante
Deixando o restante a cargo do homem-bicho
Que sente-se morno quando o sol aparece sem brilho(Sérgio Roberto)

Chuva-lágrimas


Chuva-lágrimas

No vidro embaçado da janela solitária

Deslizavam as chuva-lágrimas

Do lado de fora, no rosto seu,caíam algumas gotas chuva-mulheres

Do lado de dentro, no rosto meu,secavam as salgadas-lágrimas

Abri a janela sua e todas as lágrimas murcharam

Fechei a janela minha e a chuva molhou minha face com lágrimas.(Sérgio Roberto)

4.8.07

Tocando as palavras

Tocando as palavras

Mãos trêmulas apoiam-se na caneta vermelha,
rabisca linhas ,desenha metade das letras
Dedos soltos se confudem misturando-se a tinta perfeita,beijando-a, tocando-a, sujando-a
Tato inato cospe no papel palavras em retrato,fixando-as, amarrando-as, pisando-as
Pedaço de papel antes branco agora se revela cor de sangue,metade azul,metade vermelho, metade de mim que outrora era apenas um grafite e fim.(Sérgio Roberto)

Conversa de passarinho

Diálogo

Estava eu andando numa rua de areia, aqui perto de casa, quando de repente um passarinho passou voando na altura dos meus pés me fazendo pensar:
- Por que voas tão baixo, passarinho veloz?
Talvez sentido minha pergunta saindo por meus pés, ele respondeu:
- Para te olhar de corpo inteiro, daqui do alto de teus pés.
Continuei andando, sem olhar para trás, porém estava feliz, pela primeira vez alguém escutou o meu silêncio...(Sérgio Roberto)

É no cruzamento da esquina com a razão que se atravessa os sonhos com os pés no chão...(sérgio roberto)

Melancolia


Melancolia

Acordei, ato do meu dia
Rotina essa que sufoca e me guia
Sinto-a tocando-me
Como quem me cria
Ela entra e sai
Bicho vivo, me arranha e me inebria
Recomponho-me sem a dor da ousadia
Aceito-a tocando-me as linhas
Que o tempo invade sem a certeza do que faria

Amarela,vermelha, azul ,
És tu , melancolia minha (Sérgio Roberto)

Metade

Metade

Estende-se lateralmente e arrasta os lábios como o mar quando beija o rio,assim se dá teu sorriso
Encostam-se os cílios em hemisférios repartidos, norte ,sul, o brilho do teu olhar quem fazes és tu
Correnteza mansa desliza entre o músculo vermelho, do tamanho da mão, o qual pulsa ligeiro, pedindo vida, em forma de rima
Forte e belo és assim, na medida, sem ser pedra e sem química
Abre-se no meio, entre trancas retorcidas, o bicho amor que em ti habitas
Vem e fica, abraça-me e toca-me as feridas, contorna-as e limpa-as
Fecha-as e infiltra-as
Com a razão branca do teu ser,ser raro, ave viva
Flor que brota de areia limpa e bebe a água rasa da minha alma e fica
Onde o tempo é sentimento e a poesia é vida.(Sérgio Roberto)



...se tudo fosse escrito com lápis de cor, as palavras não seriam aptas a dizer o que nas entrelinhas apenas o grafite diria...(Sérgio Roberto)

Presença

Presença

Eu deixarei que brote em mim a ânsia de amar os teus lábios que são vermelhos, fisiológico-amor,
Por que tudo poderei te dar além da alma e do momento em sentimento, enraizada-flor
Entretanto tua ausência eleva meu vazio, o colorindo em tons no mínimo sombrios, preta-branca dor
Quero-te amanhã sem o limite do pudor, doce-salgado fluido-incolor
Não determinei caminho torto de mão-única no auge do meu esplendor, ser que se quis beija-flor
Jamais ousarei encostar a epiderme da carne em outra pele sem tato-indolor
Deslizarei entre os vasos ocultos da tua vaidade, apenas a mendicância da chama laranja, atrito-fogo sem rancor
Quem te possui não sou eu, pronome mudo calado e sem cor
Não compactuarei com ninguém meu tormento esmagado, horizonte-desgastado, lágrima que errou
Afastarei em fim, o teu abandono de mim, e aprisionarei os teus olhos costurando-os em meu jardim, primavera viva que brota cor de carmim. (Sérgio Roberto)

Laranja palavras

Laranja palavras

Peguei um pedaço de tijolo,
Encostei-o na parede espremida entre a janela e a porta do meu quarto,
Rabisquei algumas letras,
Jogue-o no chão
Encostei a cabeça no travesseiro,
Admirei o céu acima de mim,
Que se encontrava repleto de palavras laranjas,
Reflexo da cor que eu emprestei a única parede do meu quarto inteira,
Que não tinha ainda perdido a pureza de ser branca e nem se quer tinha ousado virar meu livro de cabeceira...(sérgio roberto)

Minhas janelas




Minhas janelas

Eu abro, eu escancaro, eu falo
vento, silêncio, tempo
Eu choro, eu peço,eu imploro
amor, desejo, sentimento
Eu ando, eu caio, eu desapareço
força, fraqueza, firmeza
Eu levo,eu carrego, eu sustento
medo e solidão
no meu tempo... (Sérgio Roberto)

Fugaz

"Eis que desliza sobre a virtude apagada,
em curvas de anseios fugidios,
o que sobrou da minha praga...
a qual insiste em ser sempre trágica
porém inacabada, como nossa própria alma"... (sérgio roberto)

Sentido nu


Sentido nu


Entre o sal e o doce,

existe o paladar suspenso da minha língua,

Existe a saliva que brota lateral,

Talvez amoral, às vezes insípida...

Entre a pele e o vácuo, corre o sangue em vermelho

Corre a vida do lado de dentro, espelho inteiro

Do que somos, subtraindo a vaidade,resta

Apenas partículas de carnes...

Mas os olhos riscados de verdades

Nos alívia a dor da tempestade que brota em forma de lágrimas.(Sérgio Roberto)