26.5.09

O crime

Cada contração muscular, batidas disritimadas, tremores, cada calor derramando suores. O gosto molhado da saliva quente, a respiração cravada em gemidos. A vontade de ficar. De abraçar para um preenchimento total. O olhar que corta, que desacomoda, que incita. A ereção explícita, o grito da carne, o medo de não ter volta, de refazer o já feito. Vivo. Plenamente vivo. Depois de um sono melancólico, de uma incerteza dura. De porquês sem respostas. E volto a ser criança selvagem, faminta, egoísta, cínica. E temos medos, mas queremos, E temos receios, mas fazemos. E queremos o amor, que nunca temos. É uma necessidade quase mórbida de ser amado, desejado, devorado. E cada sinapse é preenchida por pensamentos ácidos, quentes, de uma tontura branca. E ficam, incomodam, despertam a insônia, tira o apetite, seca a boca, rasga as entranhas e com mãos trêmulas, sujas, tentamos arrancar o que frio nos causa. Não somos fortes. Na cena pré-fim, o crime diz não compensar. É a insensatez de sabor doce. Eu quero. Inteiro, quebrado, acordado. Estou só, sentado num cavalo de carrossel enferrujado com resquícios de um amarelo escuro. Só. É assim que giramos entre verdades doídas. Eu tenho agora, duas digitais. O cheiro. A vida tem cheiro. Esse é o gosto do crime. Assim é a vida. (Sérgio Roberto)

2 comentários:

Tiago Elídio disse...

texto de fôlego! =)

D!NHO disse...

Intenso, como esse guri.
Adoro-o.