18.2.09

Um grito no universo

A dor de descascar camadas de mim eleva-me a compreensão de que é preciso uma nudez oca e branca para um enxergar lúcido e aprimorado do que revelo-me. Deixo as unhas sujas do que trago quebrado e mudo, numa tentativa insana de rasgar verdades que se confundem com angústias maiores. Num arrancar de peles eu me ponho no centro do vazio e já sem forças para uma volta com pés, rastejo indignado de fraquezas sujas, que ofuscam o branco apático da minha visão. Meu grito não alcança a leveza do ar. Sai alto deixando na língua todo gosto do que não foi dito. A cada grito seco uma chuva de incertezas sacia a sede da minha incompreensão. Eu estou vivo, minhas mãos tocam as paredes da minha lucidez triste, mas não a sinto. Não alcanço o que tenho medo de alcançar. Sou frágil. Não divido meu medo. Ele é inteiro e tem dentes brancos e firmes capaz de comer a mais dura das carnes. Por mais que eu cuspa essa saliva espessa oriunda de minhas partes mais secretas, eu não vou conseguir me convencer que estou limpo do que mais me apodrece. O que tenho está à margem do que sou. Talvez seja minha última camada. Talvez esteja depois de mim. O que não entendo inquieta minha liberdade vazia. Eu já fingi perguntar , já ensaiei como começar essa limpeza dentro de toda essa franqueza de alma que possuo. Sinto-me só. Invisível dentro do tempo. Tenho muita coisa indizível, presa entre meu estômago e minha garganta. Quando me abraças tenho medo de revelá-la. Covarde. Sou o maior dos covardes. Eu prendo a respiração do meu medo. Quero tirá-lo a liberdade. Meu medo está vivo, eu é que estou morto. Apoio meus braços na janela do universo e cansado deixo o vento tirar meu corpo para dançar. Meus joelhos doem como quem carregam um peso de mim. Mas meus pés deslizam, iguais aos de bailarinas aprendizes. Sou música por segundos de eternidade. Rasguei minha última pele. Estou rasgado em pedaços, mas ainda não encontrei o que quero achar no lado secreto vivo em mim. (Sérgio Roberto)

2 comentários:

ladyneide disse...

Querido!
Seu belo texto, me faz crer que é melhor vestir transparência e prosseguir nu de maus sentimentos.

E como acessório-essencial, trago-lhe 'potinhos' com FÉ e ESPERANÇA ... acompanhados da certeza, que Deus jamaaais abandona seus filhos queridos! (:

Beijooo carinhoso!


*Presentinho pra você, que tanto AMO!!!*-*

No entardecer,
o sol dança com a chuva
e um arco-íris
no horizonte tinge...
Espera a lua surgir
e entre as nuvens
uma estrela luzir.
Depois, a terra sorri
quando na noite escura
o céu clareia...
Um véu de estrelas
abraça a lua cheia...
O poeta fecha os olhos
e sente o poema
correr em suas veias.
A lua deita no mar
e o sol, novamente
beija a areia.

(Sirlei L. Passolongo)

D!NHO disse...

Lindão!!!
Que despir atordoante...tocante e triste. Porém poético como tudo que belo e triste!
Continue a despir este ser encantador que abrigas, não desista do andar sempre, continuamente como a vida que segue.
A felicidade está nos pequenos momentos, alguns são contínuos outros efêmeros, mas tem o poder de nos fazer acreditar e continuar na vida!
Adoro-o guri!