27.6.08

Quero

Eu quero o amor mesmo sabendo que dói sentí-lo
Quero o beijo das almas entre o abraço em teus braços
Quero o sexo feito do amor latente, sufocado, guardado
Eu quero a paz dos teus olhos protegida pelos seus cílios
Quero você despido da vaidade e do pudor
Quero o teu amor, simples assim
Eu e o teu amor, sem complicações, sem interrogações
O amor, sim , o amor, mor, or, baixinho assim. (Sérgio Roberto)

24.6.08

Não, não sei aonde estou indo
Indo estou não sei o porquê
Por que entender?
Para que saber?
Eu vou, vou sim
Sozinho, sem cortar caminho. (Sérgio Roberto)

3.6.08

Amarelo Manga

O vazio pintado de amarelo, sem contorno. Um amarelo vivo, intenso, explosivo, sujo.Os contrastes de cores em uma Recife de prédios históricos e sobreviventes ao tempo. Ali o mundo não é preto e branco.O amarelo é manga e está nas paredes, nas ruas, nas pessoas, no lixo, está vivo, pulsando. A cor exemplificando tudo o que há de ruim, feridas purulentas, hepatite, dentes podres, enfim, o que não se quer enxergar, mas que está na nossa fronte, em nosso meio, ao nosso redor. Tudo à margem, excluídos, esquecidos, ignorados. Brasil, Nordeste, Recife, Periferia, assim se sobrepõe estratos fragmentados de identidades vivas do mundo real numa película corrosiva.

Todos condenados à liberdade, essa, colocada de forma antagônica como um eu-aprisionado. Pessoas solitárias, descrentes e desprovidas de valores, impulsionadas pelos seus instintos, conduzidas por suas paixões e alimentadas pelos seus desejos irrealizáveis. Uma busca eterna, porém, invisível. A força do amor, bicho instruído, nunca explicável e pouco palpável se revela em cada personagem.O amar errado, a decepção de não tê-lo. O homem por dentro, definido como sexo e estômago, exposto sem pele, sem vaidade, sem pudores. A sociedade estática, paralisada e submissa aos fatos, que sabe tão bem julgar e apontar seu dedo acusador para o outro, mas que nunca sabe explicitar soluções concretas. A pobreza em tons fortes, desconcertantes, enraizada em cada esquina de uma metrópole que não foge a regra. A parcimônia dos indivíduos perante a exclusão, as diferenças, as injustiças gritantes. A religião como fuga, como salvação, como punição para as vontades e desejos humanos recheados de crimes capitais. O homossexualismo, a dor de se-ser num mundo feio, contrário ao seu sexo, a sua essência. O estigma como ferida aberta. Os sonhos interrompidos e na maioria das vezes nunca realizados. A perversão exalada pelos poros dos sem escrúpulos e dos sem perspectivas. Um dia, onde às vezes tudo acontece de uma única vez, uma noite, onde todos guardam a cor do dia. A maior dor aqui, a da alma, a psíquica, se revela em cada personagem marginalizado, onde tudo é permitido exceto se esconder. Mesmo que assim, todos se percam num caminho, que de longe, já se vê que não tem volta. Forte, visceral, assim é a periferia de Recife, um retrato de uma sociedade cercada por edifícios luxuosos, casas monumentais, shoppings gigantes e no meio de tudo isso, o lixo, a revolta, a pobreza, a luta pela sobrevivência. Falo com propriedade por ser Recifense e ser mais próximo de tal realidade, mas salientando que mesmo nesse Recife manga, há uma cultura transbordante, imensurável e viva nascida exatamente dessa maquete exposta. E o que não é virtude é encontrado em cada ângulo. E o que é fato, não se argumenta. Soa como se tudo fosse sem governo e cada ser fosse seu próprio líder. “Entre todas as espécies que habitam o mundo, o homem é o bicho que mais merece morrer”. Essa frase para mim marcou o filme, porque ela brota da mente de um personagem sem ideologias, sem moral, sem ética. Mas ela vem de dentro, da sua ira, revolta e amargura , vem de forma visceral e sem questionamentos sobre o que é certo ou errado. Daí sua significativa relevância.

Tudo é tumultuado e ácido, todos buscam uma identificação com aquilo que cada um acredita ou finge acreditar. Os desvios de caráter e comportamentos não são premissas para pré-julgamentos. Numa cena, o próprio diretor deixa-nos com uma frase intrigante na cabeça: “O pudor é a forma mais inteligente de perversão”. O que parece estereótipos são aqui nesse universo real, pinturas do fracasso e do resultado de uma sociedade-moinho, que tritura a todos reduzindo tudo a cores. As inter-relações se dão sob a intolerância, as divergências de caráter, o desejo da carne, a traição como fuga para o que não se quer viver, a falta de propósitos e de sentido, a rejeição e a amargura. O abismo social e cultural é grande e une os indivíduos dando uma falsa idéia de coletividade e direitos iguais. E é extremamente incômodo vê cada um nessa tela de cores fortes que pintam um taxista necrófilo, que sente uma atração mórbida por cadáveres, uma evangélica reprimida e apática , um açougueiro inseguro e áspero, um padre incrédulo e politicamente incorreto, uma asmática conformada e nauseante, um homossexual sem escrúpulos , uma dona de um bar, solitária e sem perspectivas e uma série de outros personagens que enchem e esvaziam a tela nos deixando com uma sensação de impotência diante de tudo e todos. A vida é para ser comida como quem come uma manga madura e é exatamente isso que todos tentam fazer sem êxitos.

Num mundo onde a idéia de identidade está fragmentada, deslocada e deturpada não fica difícil visualizar a angústia que cada um carrega por não se enquadrar nos falsos parâmetros que são estabelecidos. O que talvez é, de fato, impressionante, é uma espécie de impulso vital que move cada grupo ou cada segmento social à uma adaptação, mesmo que incômoda e dolorosa, nesse mundo tão atrasado e já pós-moderno. E quem mais sente essa dor, são as ditas minorias, que sofrem com o olhar dos seus “iguais” , que os assistem em geral anestesiados. Porém quem de fato tempera o caldeirão cultural brasileiro são esses, excluídos, marginalizados, esquecidos, negros, índios, pobres, analfabetos, homossexuais, nordestinos, brasileiros, que reunidos em um só habitat sobrevivem face à intolerância e o descaso.

Nós temos tudo perto da gente, mas a maioria das pupilas estão dilatadas demais para enxergar. Às vezes incomoda, mas não mata se aproximar do que se quer sufocar. As fronteiras estão indefinidas, o homem nunca esteve tão sem rosto, tão sem chão, tão sem identidade. Um brinde ao amarelo. (Sérgio Roberto)
Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração. (Teatro Mágico)
Cuida de mim enquanto fujo, enquanto finjo (Teatro Mágico)
"Os opostos se DISTRAEM, os dispostos se ATRAEM" (Teatro Mágico)
"Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você" (Teatro Mágico)
Os olhos mentem DIA e NOITE a dor da gente. (Teatro Mágico)